quinta-feira, 18 de abril de 2013

No piso de cerâmica, a esperança do Brasil


No piso de cerâmica, a esperança do Brasil

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por Anna Ramalho
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Hoje é dia de olhar para a tela branca e pensar, em agonia profunda, se terei como preenchê-la bem – de forma a satisfazer minha insaciável mania de perfeição e, ao mesmo tempo,  agradar ao meu pequeno, mas fiel, número de leitores. Um ou dez mil, tanto faz. A angústia é a mesma. Medo de errar. De ser chata e repetitiva. Um inferno este ofício de cronista que não é um Rubem Braga ou um Drummond.
Leio o jornal em busca de inspiração. A musa não vem. O noticiário irrita, não motiva. É deprimente testemunhar diariamente que o Brasil ruma para o buraco, enquanto a turma lá de Brasília só pensa em mais um mandato, em mais uma caravana rolidêi para iludir o povo dos grotões, aquela gente miserável que, apesar do Lula e sua política assistencialista, ainda mata calango pra comer. O assunto da hora é o piso de cerâmica para as casas do Minha Casa Minha Vida. Quase chorei quando li isso. Pensar nessa pobre gente, em como todos são iludidos com falácias as mais variadas. Piso de cerâmica, quando muitas vezes não têm nem água tratada. Piso de cerâmica para os coitados pensarem que moram em condomínio  de luxo do Sul Maravilha, como tão bem definiu o saudoso Henfil o Brasil do Rio para baixo. Do jeito que ficam todos megalomaníacos nessa época de campanha eleitoral, não demora estão prometendo espaço gourmet nas casinholas dos pobres do país.
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A classe média está caminhando rumo ao buraco negro, quem entende ( o que não é absolutamente o meu caso) diz que a culpa é toda da taxa Selic, que o Brasil vai mergulhar na mesma recessão europeia, e eu me pego em pânico.  Torço para que estejam todos errados, que esteja certo o governo que pretende assoalhar a pobreza com cerâmica. Como sou de rezar, rezo, juro que rezo, por Dona Dilma. Que Deus a ilumine e lhe dê forças, que nada de ruim possa nos acontecer, afinal já passamos por maus bocados, todos merecemos continuar pelo menos com essa sensação de que somos primeiro mundo  alguma vez na vida. De que somos é um certo exagero, mas, digamos, bem melhor na foto do que já estivemos em tempos idos. Na rede, já topei com várias manifestações de nostalgia pelos tempos da ditadura. Pé de pato, mangalô, três vezes!!!
Penso no Minha Casa Minha Vida e penso que Dona Dilma é a dona dessas casas – e das casas de todos os brasileiros. E o que faz uma boa dona de casa? Se o dinheiro está curto, fecha a bolsa; se está suja, promove a limpeza, ordenando a faxina; se está bagunçada, cabe a ela se não arrumar diretamente, tratar que a ordem seja restabelecida.  Tenho cá pra mim, que o Brasil votou em Dona Dilma com esta expectativa: que ela desse ordem à casa, que estava um tanto ou quanto bagunçada.  Ela começou bem, mas, com a sede com que está correndo para o pote, corre sério risco de ver tudo desandar.
Rezo outra vez – e peço que ela acorde a tempo. Que não se deixe iludir pela ilusão do poder. A primeira mulher a presidir o Brasil não pode passar à História como tendo sido aquela que o jogou no buraco. Não mesmo. Oremos, pois.
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Foi-se Cleyde Yáconis.  Não era bonita como Tônia ou famosa como Fernanda, mas marcou. Tinha um charme, uma elegância natural  e principalmente uma presença cênica que a impunham. Quem é de novela como eu, pode vê-la no ar na reprise da excelente “Rainha da Sucata “ (definitivamente não se fazem mais novelas como antigamente), na qual ela vive uma falida socialite, irmã de Paulo Gracindo, mãe de Andréa Beltrão e cunhada de Glória Menezes ( definitivamente não se fazem mais elencos como antigamente).
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Cleyde Yáconis vai fazer falta. Aqui um link para quem quiser revê-la em ação, em antológica cena de "Rainha da Sucata", de Sílvio de Abreu.http://canalviva.globo.com/programas/mais-da-tv/materias/homenagem-a-atriz-cleyde-yaconis.html

Anna Ramalho é colunista do Jornal do Brasil, criadora e editora do sitewww.annaramalho.com.br e cronista sempre que pode.

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